quarta-feira, julho 18, 2007

A final dos sonhos



O meu querido Olé já havia mandado gelar um caminhão de Quilmes e alguns tonéis de tinto de Mendoza!
As proximidades do Obelisco da Nueve de Julio estavam apinhadas de gente louca para gritar gol tantas vezes quanto fosse necessário a cada vez que Messi partisse para cima do gol do Brasol!
Todo mundo esperava uma goleada, até mesmo o Ricardo Teixeira.
Mas parece que alguém esqueceu de avisar ao Time de Volantes que ele deveria ser goleado e sair de campor agradecendo a oportunidade de perder a final para a Argentina de Riquelme, Verón, Tevez e Messi.
E como quem não avisa, não pode reclamar da reação do adversário, o Brasil B (termo do próprio Olé) deu show em Caracas e levou o bi da Copa América.

http://esportes.terra.com.br/futebol/copaamerica2007/interna/0,,OI1761204-EI8892,00.html


O Olé decretando o fim de uma geração na Argentina


E o show começou logo cedo, com um Brasil batendo até na sombra e uma Argentina lenta e pouco perigosa.
Apesar de não gostar de violência e de "futebol-destruição" (o Elano poderia ter sido expulso em mais de uma ocasião), achei que a tática da Seleção foi perfeita: "já que somos inferiores tecnicamente, vamos inverter os papéis e não deixar eles jogarem", poderia ter dito o Dunga.

E tudo começou com um chutão travestido de lançamento do Elano para o Júlio Baptista, que parou a bola, teve calma para esperar e chutar no ângulo de "Pato" Abbondanzieri, que deu uma de Doni e estava na linha da pequena área.
Enquanto tudo isso acontecia, o "grande" Ayala assistia a tudo e optava por não se aproximar demais do volante brazuca.
Deu no que deu.


Júlio Baptista e Vágner Love comemorando o golaço


Aliás, o mesmo Ayala teve participação no segundo gol. Mesmo que ele quisesse, fica difícil imaginar uma finalização tão boa contra o próprio gol.
E melhor do que o gol foi o "Pato" botando as mãos na cabeça e o próprio Ayala desistindo de se levantar por achar que a vaca já tinha se afundado definitivamente no charco venezuelano, ainda mais com a confirmação de que a defesa era provavelmente o único ponto fraco do time.

E ainda houve tempo para uma ótima entrada de Daniel Alves no meio.
Entrou, jogou bem e fez o terceiro. Caixão fechada e alma devidamente encomendada, a Argentina já era. O "time de volantes" era campeão e não adiantava chorar.


Daniel Alvez fazendo o terceiro



Os "capitães", Gilberto Silva e Juan, levantando a taça


Já do outro lado do Atlântico, o entusiasmo não era tão grande assim.
Os espanhóis preferiram dizer que Messi não havia ganho o título que merecia, que o Brasil havia sido violento e que o futebol-arte havia sido trocado pelo estilo "à italiana".
Fiquei pensando se eles haviam dito a mesma coisa no ano passado quando a Itália foi campeã do mundo (jogando desse mesmo jeito) ou se trata-se apenas de alguma espécie de "imperialismo esportivo tardio".

Há de se ressaltar um detalhe que pode passar despercebido da maioria, mas que simboliza bem a união e concentração de um time: nenhum jogador da Argentina vai para o vestiário no intervalo antes de estarem todos no meio do campo para uma saída coletiva.
Não deu muito certo no domingo, mas eu gostei do gesto.

Mas nem tudo são flores no mundo do futebol brazuca.
Mesmo com a rendição de Riquelme, não dá para achar que está tudo bem e que nada precisa mudar.
Infelizmente para mim, não dá para esquecer Kaká e Ronaldinho e nem dá para achar que o grupo das eliminatórias é esse que é campeão.
Não se pode achar que tudo está bem quando ninguém cria jogadas e o meio de campo é todo formado por volantes.
E não se pode achar que o trabalho do Dunga é bom por conta da vitória. É preciso mais, muito mais do que isso para se consagrar e ganhar o respeito de quem ama futebol.

Pior que tudo é ouvir o Galvão Bueno mencionar a aparente contradição entre o significado de Seleção (que seria respeitado pela Argentina, ao só convocar os melhores) e o caminho seguido pelo Brasil, que fez da Copa América uma nova experiência.
Fiquei me perguntando de que forma uma Seleção consegue mudar de geração de jogadores se não for assim. Quer teste melhor para um grupo novo de jogadores do que um torneio oficial contra o time A de uma grande Seleção?
Coisas do sábio tio Galvão.

Fotos: Terra e Lance

quinta-feira, julho 12, 2007

E agora?

Deu a final que, segundo o monstro sagrado Galvão Bueno, o mundo inteiro esperava.
Tirando a arrogância e o autocentrismo embutidos na frase, é mais ou menos isso mesmo.

A Argentina contou com shows de Riquelme (nos jogos anteriores) e Messi (na semi contra a México) para abrir caminho a machadadas e bom futebol.
Aliás, alguns super-patriotas quiseram comparar o presente e o futuro de Robinho e Messi, mas eu acho isso impossível. O argentino está anos-luz à frente em tudo. Talvez só no samba o nosso menino seja melhor.


Messi: muito melhor do que Robinho


Mas voltando à final, o Brasil contou com a limitação e o medo dos rivais e com várias forcinhas da arbitragem (a última, escandalosa, contra o Uruguai) para chegar, meio que aos tropeções, mas chegar. Ah, na semi, além do juiz, o Lugano também era nosso.


Doni, mais ou menos na posição em que estava quando defendeu o pênalti batido por Lugano


Isso significa que os Hermanos vão atropelar?
Felizmente para nós, não necessariamente.
Uma final possui características técnicas e psicológicas um pouco diferentes e permite que um time inferior tecnica e taticamente (como sabidamente é o do Brasil) equilibre o jogo e até ganhe de um time que joga por música e dá espetáculo.

Como saber qual será o resultado?
Felizmente também isso não é possível. A coisa toda é meio que imprevisível, apesar do temor que todo brazuca deve estar sentindo neste momento.
"Aí vem o Messi!", podem pensar alguns.
"Como parar o Riquelme?", diriam outros".
"Liguem para o meu dentista e avisem que vou jogar contra o Ayala e o Heinze!", finalizariam os demais.

Seja como for, domingo tem mais sofrimento.
Só espero que seja como em 2004 e que a arrogância e a decepção só fiquem do lado deles!

sexta-feira, julho 06, 2007

Justificativas

Achei que ficaram faltando alguns motivos para minha descrença na Seleção, demonstrada no post anterior, por isso resolvi dar apenas alguns exemplos do que considero serem os problemas do time.

1 - Material humano
Falam muito nos desertores Kaká e Ronaldinho Gaúcho, mas é preciso lembrar que, por pior que seja, o time atual está sem vários jogadores que eram considerados titulares ou bons reservas.
Além dos traíras, ficaram de fora Zé Roberto (que renasceu como jogador e craque de meio de campo nas mãos do Luxemburgo), Lúcio (que não é lá muito diferente de Alex e Alex Silva), Cicinho (me parece muito superior a Daniel Alves e Maicon), Adriano (alguma diferença com relação ao Vágner Love?) e Ronalducho (que queiram ou não, faz gols no campeão europeu).
Concordo que é preciso renovar e agradecer a contribuição de gente como Cafu (que ainda dá caldo), Roberto Carlos (idem) e Émerson (idem), mas fica a impressão de que existe gente melhor do que Gilberto, Doni, Elano e companhia.

2 - Esquema tático
Até o jogo contra o Equador, eu costumava defender o Dunga daqueles que diziam que ele precisaria ter tido experiências treinando clubes antes de ser o técnico da Seleção. Eu sempre usava o exemplo do Klinsmann, que entrou direto na Seleção Alemã e a levou ao terceiro lugar na Copa de 2006.
Infelizmente essa minha defesa morreu quando vi a escalação de quatro volantes. E não acho que o adversário tenha algo a ver com isso.
Ao contrário do que a tradicional arrogância futebolística brazuca diz, o Equador é um time como qualquer outro e merece sim cuidado e respeito.
Meu problema é mesmo interno ao time.
Por que quatro volantes?
Que tipo de criatividade se espera de Júlio Baptista, Mineiro, Josué e Gilberto Silva?
De onde o Dunga acha que virão as jogadas do time?
Acho que desta vez ele se atrapalhou e isso pode lhe custar muito caro se o Chile acreditar mesmo que pode vencer e mandar os Pentacampeões para casa.

3 - Arrogância.
Por que o tempo em que os times se borravam de medo só de olhar para a "amarelinha" acabou. Se é que algum dia existiu.
É preciso ganhar na bola, mas parece que a ficha está demorando para cair.
Só isso explica o choque de algumas pessoas quando a Seleção perde algum jogo que não seja para algum campeão mundial, elite considerada do mesmo "nível" que o Brasil.
Acordem, Alices! Quem morre de véspera é o peru, com letra minúscula, para não gerar confusão entre os sonhadores e arrogantes.

quinta-feira, julho 05, 2007

Cortina de fumaça

Estou um pouco atrasado, mas ainda dá tempo de comentar o desempenho do Brasil na Copa América, mais precisamente à partir do segundo jogo.
No primeiro, o time não foi assim tão horroroso e, como diz o Galvão Bueno, o México descobriu a fórmula para bater o futebol brasileiro.

Prefiro falar do jogo contra o Chile, de como o Brasil não fez muito para merecer o 3 a 0, de como o Chile pagou por seu próprio medo de ganhar e de como um jogador inspirado pode salvar a pátria.
O resultado certamente não exibiu o decorrer do jogo. Por incrível que pareça, o Chile dominou o jogo (à custa de muitas faltas e catimba, ou como diz o sábio Galvão Bueno, à custa da deslealdade, a maior entre todas as seleções sul-americanas, declaração logo amenizada pelo Arnaldo, que é pago para não deixar o Galvão falar besteira sozinho) e deixou o Brasil praticamente inoperante.
Só mesmo uma forcinha do juiz em um pênalti duvidoso para mudar as coisas ou pelo menos tentar, já que o Chile continuou dominando e só não complicou as coisas por incompetência dos seus atacantes e por sorte do Brasil, que fez o segundo depois de um chutão para a frente.
O terceiro saiu depois que o Chile estava entregue e contou com a genialidade de Robinho, um dos únicos que se salvam no time de Dunga.


Robinho: fez todos os gols do Brasil até agora


Mas o que preocupa não é o placar, o domínio ou a situação na classificação.
O complicado é pensar que o time não tem jogadas, não tem velocidade, não empolga.
Ontem contra o Equador foi assim também e novamente foi necessária uma força do juiz para salvar a pátria. Desta vez a força foi bem maior já que envolveu pênaltis, um a favor que não aconteceu e um contra que não foi marcado.
Mas como diz o Ricardo Teixeira, o Brasil tem a obrigação de usar a força política que possui.
Depois não vale reclamar das declarações de favorecimento que os italianos adoram publicar nos seus jornais.

Com a classificação, vem um novo jogo com o Chile, desta vez sem os dois laterais direitos. Maicon está machucado, Daniel Alves suspenso e não sobra nenhum especialista para a posição. Dunga vai ter que improvisar, o que aumenta a preocupação, principalmente se o Chile passar a acreditar que dá para vencer.
E olha que dá mesmo!

Enquanto isso, no lado bom da Copa América, aquele onde a bola é bem tratada, a Argentina vem voando baixo e é cada vez mais favorita para o título. Riquelme segue dando show e deve voltar cheio de moral para o Villareal.
Na verdade, na minha opinião, essa á uma das únicas chances de alguém atrapalhar os planos deles: se eles continuarem dando show, podem acreditar que já ganharam, podem subir no salto, começar a brincar e a menosprezar adversários e aí tomar uma invertida, como aconteceu contra o Brasil na final da última Copa América.
Até aqui eles tomaram um gol cedo e tiveram tranquilidade para virar e golear, mas não sei como o ego dos jogadores pode reagir se forem eles a abrirem o placar, o tempo passar e eles acharem que a fatura já está liquidada.


Riquelme, o craque


A conclusão é que só a Argentina pode ganhar da Argentina.
Vamos ver se sou bom secador.

Fotos: Terra