
O meu querido Olé já havia mandado gelar um caminhão de Quilmes e alguns tonéis de tinto de Mendoza!
As proximidades do Obelisco da Nueve de Julio estavam apinhadas de gente louca para gritar gol tantas vezes quanto fosse necessário a cada vez que Messi partisse para cima do gol do Brasol!
Todo mundo esperava uma goleada, até mesmo o Ricardo Teixeira.
Mas parece que alguém esqueceu de avisar ao Time de Volantes que ele deveria ser goleado e sair de campor agradecendo a oportunidade de perder a final para a Argentina de Riquelme, Verón, Tevez e Messi.
E como quem não avisa, não pode reclamar da reação do adversário, o Brasil B (termo do próprio Olé) deu show em Caracas e levou o bi da Copa América.
http://esportes.terra.com.br/futebol/copaamerica2007/interna/0,,OI1761204-EI8892,00.html

O Olé decretando o fim de uma geração na Argentina
E o show começou logo cedo, com um Brasil batendo até na sombra e uma Argentina lenta e pouco perigosa.
Apesar de não gostar de violência e de "futebol-destruição" (o Elano poderia ter sido expulso em mais de uma ocasião), achei que a tática da Seleção foi perfeita: "já que somos inferiores tecnicamente, vamos inverter os papéis e não deixar eles jogarem", poderia ter dito o Dunga.
E tudo começou com um chutão travestido de lançamento do Elano para o Júlio Baptista, que parou a bola, teve calma para esperar e chutar no ângulo de "Pato" Abbondanzieri, que deu uma de Doni e estava na linha da pequena área.
Enquanto tudo isso acontecia, o "grande" Ayala assistia a tudo e optava por não se aproximar demais do volante brazuca.
Deu no que deu.

Júlio Baptista e Vágner Love comemorando o golaço
Aliás, o mesmo Ayala teve participação no segundo gol. Mesmo que ele quisesse, fica difícil imaginar uma finalização tão boa contra o próprio gol.
E melhor do que o gol foi o "Pato" botando as mãos na cabeça e o próprio Ayala desistindo de se levantar por achar que a vaca já tinha se afundado definitivamente no charco venezuelano, ainda mais com a confirmação de que a defesa era provavelmente o único ponto fraco do time.
E ainda houve tempo para uma ótima entrada de Daniel Alves no meio.
Entrou, jogou bem e fez o terceiro. Caixão fechada e alma devidamente encomendada, a Argentina já era. O "time de volantes" era campeão e não adiantava chorar.

Daniel Alvez fazendo o terceiro

Os "capitães", Gilberto Silva e Juan, levantando a taça
Já do outro lado do Atlântico, o entusiasmo não era tão grande assim.
Os espanhóis preferiram dizer que Messi não havia ganho o título que merecia, que o Brasil havia sido violento e que o futebol-arte havia sido trocado pelo estilo "à italiana".
Fiquei pensando se eles haviam dito a mesma coisa no ano passado quando a Itália foi campeã do mundo (jogando desse mesmo jeito) ou se trata-se apenas de alguma espécie de "imperialismo esportivo tardio".
Há de se ressaltar um detalhe que pode passar despercebido da maioria, mas que simboliza bem a união e concentração de um time: nenhum jogador da Argentina vai para o vestiário no intervalo antes de estarem todos no meio do campo para uma saída coletiva.
Não deu muito certo no domingo, mas eu gostei do gesto.
Mas nem tudo são flores no mundo do futebol brazuca.
Mesmo com a rendição de Riquelme, não dá para achar que está tudo bem e que nada precisa mudar.
Infelizmente para mim, não dá para esquecer Kaká e Ronaldinho e nem dá para achar que o grupo das eliminatórias é esse que é campeão.
Não se pode achar que tudo está bem quando ninguém cria jogadas e o meio de campo é todo formado por volantes.
E não se pode achar que o trabalho do Dunga é bom por conta da vitória. É preciso mais, muito mais do que isso para se consagrar e ganhar o respeito de quem ama futebol.
Pior que tudo é ouvir o Galvão Bueno mencionar a aparente contradição entre o significado de Seleção (que seria respeitado pela Argentina, ao só convocar os melhores) e o caminho seguido pelo Brasil, que fez da Copa América uma nova experiência.
Fiquei me perguntando de que forma uma Seleção consegue mudar de geração de jogadores se não for assim. Quer teste melhor para um grupo novo de jogadores do que um torneio oficial contra o time A de uma grande Seleção?
Coisas do sábio tio Galvão.
Fotos: Terra e Lance